Onze anos

Quando você tinha onze anos, eu nasci. Quando você se apaixonou pela primeira vez, eu cantarolava aquele desenho bobo . Quando você ia para baladas, eu brincava de boneca. Quando seu filho nasceu, eu que tinha onze anos. Você teve seu coração partido muito antes de eu saber o que era amor. Mas enquanto eu me apaixonei, você se fechou para todo e qualquer coração, por mais bonito que pudesse ser. E eu ali do outro lado, viciei em cada parte de amor que achei que existisse, enquanto você tentava se desvencilhar depois de tentar e tentar. Mas depois de todos os meus arranhões, eu também cansei de tentar, eu deixei meus olhos brilhando para lá e segui tentando ser fria o suficiente para afastar todos ao redor. Criei minha armadura, e você já tinha a sua. Mas quando nos conhecemos naquela noite fria de sábado, não fazia sentido projetá-la, por mais que tenhamos tentado, era muita bagagem para desconstruir, mas eu não resisti ao seu segundo “Olá” e ali me perdi de novo e me odiei pela sensação, porque aquilo me causava tanto medo. E tivemos tanto medo, medo de sermos como os outros, medo das mentiras, das dores físicas e mentais, medo de não conseguir suportar dessa vez, mas foi inevitável, me perdi em seu beijo e não consegui ir embora. Senti meu coração destroçar quando pensei que não seríamos um do outro, mas o destino estava ao nosso lado e por mais que parecesse loucura entrar de cabeça naquilo, por mais que as inseguranças gritassem, ao mesmo tempo parecia a coisa certa à se fazer. E era.

Hoje, quando olho para seus olhos, eu tenho certeza de que eu sou incapaz de desistir do amor, porque o amor é cura, porque você é minha cura e eu vou lutar para que esse quente em meu coração, jamais se apague. Onze anos nos separaram, mas o destino soube fazer seu papel, enquanto precisávamos viver nossas vidas para enfim, estarmos prontos um para o outro, pois desde que eu te conheci naquele sábado frio, eu soube que era você, e a verdade, meu amor, é que é e sempre foi você, e assim eu te esperei minha vida inteira, mesmo sem saber quem era você. Por você tirei minha armadura e a você entreguei meu coração.

Talvez não seja nessa vida ainda
Mas você ainda vai ser a minha vida
Sem ter mais mentiras pra me ver
Sem amor antigo pra esquecer
Sem os teus amigos pra esconder
Pode crer que tudo vai dar certo

Eu acordava pra trabalhar e preenchia minha cabeça de números, quando passavam das sete da noite, o álcool preenchia qualquer vestígio de vazio e mais tarde, meus dedos me preenchiam de prazer. Foi assim que segui em frente, me preenchendo de qualquer coisa que não fosse você.

A nova (antiga) eu

Dia após dia, as memórias sobre você vão se apagando e isso esfria minha espinha. É triste ver tudo saindo do lugar e indo para um passado que vai doer sempre que for remexido e que vai corroer por não ter sido nada além de invenções de uma antiga eu fantasiosa. É que eu acho que você foi o último que conheceu essa versão tosca, eu sinto que ela foi embora, assim que você virou as costas, quando entrei no carro, depois do nosso beijo sem sal, ela foi embora com você, ela precisou estar com você para sempre, então pelo menos, parte de mim ainda vive com você, e eu, finalmente, não preciso mais viver com esse fardo. Mas a parte que nasceu diante disso, está tentando não ser fria demais, mas tem cortado tudo ao redor, sabendo que o que sentiu naquele dezembro de dois mil e vinte e dois, foi a última doce ilusão que existiu em sua vida, mas que foi tão forte, que é difícil seguir sem ela. É difícil viver sem sua droga viciante. Mas eu já não sei mais me apaixonar assim, e os resquícios que sobraram de paixão dentro de mim, tem seu nome.

Toda segunda-feira, a mesma azia, causada pelo excesso de bebida, de cigarro e de amor não recíproco.

Ainda te amo

Minha mãe não dorme enquanto eu ‘tô na rua
E ela ‘tá de pé já vai fazer um mês
Tenho levado uma vida impura
Desculpa o olho cheio e minha acidez

Minha cabeça é a minha prisão
Deixei pra trás quem eu fui sem razão
Três carnavais, eu ainda tô na rua
Vai

Eu bato o meu carro aprendo a roubar
Eu arranjo briga bebo em algum bar
Beijo qualquer boca eu traço algum plano
Só pra não lembrar que ainda te amo.

Fogo de Palha

A verdade, meu bem, é que aquilo tudo não foi fogo de palha para mim, eu sei o que elas me disseram, e eu finjo que está tudo bem resolvido aqui dentro e que seguir em frente é natural, mas a realidade é que você ainda está em me coração, mesmo agora depois de três meses. Te ouço em músicas, te leio em poemas, te vejo em olhares, te sinto em cheiros, você ainda martela em minha cabeça quase que o tempo inteiro, mas você nem deve lembrar mais do cheiro doce que inundou sua roupa, nem do jeito que nos olhavámos como se ninguém mais ao redor existisse. E eu sei que para você foi só fogo de palha, mas o que eu posso fazer se meu coração continua pegando fogo, mesmo depois desses meses todos. Eu não suporto falar com ninguém, porque nenhum outro homem é você, ninguém é você, é tudo sem graça, sem cor, mas eu continuo dançando até o amanhecer para fingir que não sinto falta do seu beijo e a verdade é que ninguém, nunca mais, me beijou como você. Tudo ficou monótono e você sabe como odeio essa palavrinha e seu devido sentido.

Tenho vontade de pedir o uber para o seu bar preferido, sentar na nossa mesa, e beber umas cervejas por você, mas o garçom, talvez, me reconheça e eu tenho medo do que isso pode me causar. Estou do lado da sua casa, mas eu evito aquele caminho, porque se eu esbarrar em seu olhar, serei incapaz de continuar agindo friamente.

Esse fogo de palha me aquece desde dezembro e já não sabe como lidar com a falta de memórias que o tempo causa, mas ele permanece assim, queimando.

Domingo foi meu aniversário, e ali tinha tanto amor, mas eu queria tanto ter o seu que tive que rir mais do que conseguia para disfarçar a falta que você me faz. Quando anoiteceu, vi sua foto, e você continua exatamente igual, tão cheio de vida, mas eu sei que ainda é vazio aí dentro, e eu queria te encharcar com meu ser, mas você não permitiu o suficiente, então tive que ir embora, antes que as coisas ficassem feias. Mas aqueles foram os meus dois meses favoritos, e eu viveria tudo de novo, mesmo sabendo das consequências, porque aqui dentro, meu bem, não é fogo de palha.

Já deu errado por amar muito
Já deu errado por amar muito pouco
Me disseram que eu só amo gente louca
É porque a graça não é só beijar na boca

Bendita Música

Ouvir essa bendita música, me leva para aquele fim de tarde, naquela paisagem nublada com restinho de calor, onde as árvores dançavam em sintonia. Eu segurava meu cigarro em uma mão e na outra aquela nossa bebida, seus olhos brilhavam para o nada, enquanto seus lábios cantarolavam essa bendita música, e eu amava tanto essa canção, então estava tudo perfeito, difícil de acreditar, nós dois combinávamos, mesmo que você não pudesse enxergar, e eu teria ficado se você tivesse pedido, eu teria cuidado de você de novo, e não deixaria você fazer escolhas erradas ou talvez, fizéssemos juntos, mas é que eu sei que ficaria tudo bem depois e agora não parece nada bem, pelo menos não aqui desse lado, porque sobre o seu, eu não sei.

A música ainda toca em finais de tarde, mas eu nunca mais tomei a nossa bebida, eu deixei ela lá no cantinho com o restante de “nós”. E quando eu penso naquela cidade, naquelas árvores, automaticamente sinto algo arder aqui dentro. E todas aquelas piadas internas ficam no ar, porque não tenho para quem contá-las. Sigo em frente, tão desengonçada, a mesma eu de sempre, mas eu tenho que fingir que as coisas aqui dentro já voltaram ao normal, porque eu estou cansada de todos esses olhos de julgamento, então, eu paro essa bendita música e finjo que aquele dia, naquela cidade, jamais existiu.

Futuro Certo?

Estou pensando mil e uma possibilidades agora e isso me incomoda, porque eu sempre espero que tudo fique bem no final e a realidade é que é cansativo demais ser positiva o tempo todo, mas a possibilidade de te ter em meus braços, de ter uma certeza, de ter um sentimento de verdade é fascinante e me deixa com vontade de mergulhar nisso que meu cérebro chama de loucura. Eu não sei nada além do que ela me disse e do que as cartas disseram, e mesmo assim já me imagino em seu corpo, provando de um cheiro que eu desconheço e de um gosto que eu faço qualquer coisa para gostar. Vou te levar para o meu mundo e te fazer entender que a vida pode ser linda quando se tem alguém, mas talvez, eu te acostume mal e as coisas saiam erradas de novo, mas eu gosto de como meu toque pode curar e só espero que você possa me curar também, porque já estou cansada de tentar isso sozinha.

Quando ela diz seu nome, meu sorriso aparece instantaneamente e eu me sinto tão louca, mas não consigo evitar. Eu quero que você goste de tudo em mim e me idolatre que nem ele fez, mesmo quando eu o deixei partir, e você sabe das consequências e mesmo assim parece estar vindo tão rápido até aqui, mesmo sabendo de como deixei aquele coração em pedacinhos, a verdade é que você sabe que posso te curar e que isso vai te viciar. O grande mistério é de como involuntariamente nós conseguimos sentir que estamos nos movendo do jeito certo por esse caminho e eu só quero ver o que tem do outro lado. Eu sei que você sente que é o certo, porque você está passando por cima de tudo e é a sua primeira vez. Eu adoro como você odiou o meu passado infeliz, como achou todo mundo tão errado para mim, eu adoro o quão certo você pode ser. E eu fico aqui esperando ansiosamente um futuro que eu nem sei se corresponde ao meu, mas meu coração já se entregou e você vai enxergar do que ele é capaz quando anoitecer e eu estiver deitada em seu peito.

Deixe-me te encontrar no sábado à tarde, antes de ir embora, talvez, ver meus olhos te faça entender que isso tudo é uma bagunça, mas eu acho que é exatamente da minha bagunça que você precisa, assim como eu preciso de sua doce calmaria. E eu busco enxergar se você é o futuro certo, mas a verdade é que meu coração já disse “sim”, muito antes de nossos olhos se encontrarem.