Que fechem as cortinas

A música parou, as luzes se acenderam, estão me chamando pra ir embora e eu vou tropeçando em meus pés cansados de dançar. Que aperto no peito. Que agonia. Os rostos conhecidos vão se afastando do meu campo de visão para sempre ou por muito tempo. O destino escolhe. E eu seguro meu vestido com a ponta dos dedos tentando me locomover como uma dama pelo menos por uma noite. Mas eu quero voltar para a pista. Quero falar tudo que eu não falei ou deixei os outros falarem por mim. Quero te puxar pela gravata pra um canto sem ninguém, aliás que bela gravata. Quero te dizer tudo aquilo que eu engoli. Mas continuo caminhando até a saída.
Eu devia ter tropeçado em você de mentirinha, devia ter feito papel de bebada pra ter a desculpa de te insultar ou falar de amor. Mas não fiz nada. Ou fiz tudo. Me diverti, dancei, bebi, esqueci que era o fim, mas o fato é que era o fim e eu não disse nem olá, muito menos adeus. E agora estou indo embora. Não vou ter outra chance de dizer que você me magoou de todas as maneiras que alguém pode magoar outra pessoa. Não vou ter a resposta para aquelas perguntas que me martelaram durante varias madrugadas. Apenas acabou, caindo a ficha ou não. Você se foi, eu me fui, acabou o que nem começou. Talvez eu fale de você para os meus filhos ou simplesmente te esqueça na gaveta. Mas agora é o fim. Quem chorou que seque as lagrimas e quem aplaudiu que se vá. Não tem mais história pra contar. Que você siga o seu caminho. Que ouça falar de mim. Que eu não ouça falar de você. E que fechem as cortinas.