“Eu fiquei surpresa. Afinal, de contas quando soube que você gostava dele, eu achei que ele fosse legal…” disse-me ela com uma preocupação na voz, enquanto tentava decifrar minha expressão séria. Mas ela não conseguiria, eu era como um túmulo que jamais se abriria.
Que bela dedução. No entanto, isso me fez perceber que ela não me conhecia o suficiente, porque se conhecesse saberia sobre meu dedo podre e sobre a completa falta de sorte que me rodeava. Pensei em lhe explicar tamanhos argumentos, mas desisti ao me dar conta do que ela diria, “isso é só uma fase”, mas eu sabia que não era.
Ele não havia sido o primeiro a me magoar, e nem de longe seria o último. E eu sei o que ela achava, que eu estava sofrendo e que precisava de consolo em um abraço reconfortante. Mas, isso era porque ela não me conhecia bem, porque se conhecesse saberia que eu sempre me curei sozinha.
Ela me falou sobre não entender o que eu pude enxergar em um cara como ele, que aos olhos dela não tinha beleza alguma. E pela primeira vez ela parecia ter razão. Nunca fui do tipo de ligar pra estética. Minha conexão com as pessoas sempre aconteceu de outra forma, uma forma especial. E eu sempre achei que talvez fosse algo sobre o destino, que tinha o dever de fazer certas pessoas se conhecerem. Sempre enxerguei um outro tipo de beleza nas pessoas. Uma mais escondida, que poucos podiam enxergar. Mas que beleza eu encontrei no rapaz que tanto me machucara? Naquele momento eu não me recordava de nada que podia ter me levado a esse amor. Nada nele parecia especial. Pelo menos, naquele momento não.
Ela me deu conselhos clichês, sobre ele ser um idiota. Me disse palavras bonitas de amizade e fez algo que me surpreendeu, me deixou sozinha. Talvez, ela não me conhecesse tão mal assim. Talvez, me conhecesse melhor do que eu conhecera o rapaz que havia arrancado meu coração.
Afinal, o que eu sabia sobre ele? Que seus olhos eram castanhos, que ele gostava da minha música depressiva favorita, que foi nerd na quinta série, que se apaixonou por uma menina que só via nas férias, assim como eu, que sorriu ao imaginar a hipótese de eu gostar dele, que mudara seu jeito para ser aceito, que tinha um sorriso bonito, que nunca ficara triste, que destruiu meu coração.
Então, se o destino de fato coloca as pessoas na vida das outras por algum motivo, qual seria o motivo de termos nos conhecido? Qual seria o motivo pra ele ter destroçado meu coração? Talvez, o destino não fosse bom. Ou, talvez não fosse muito esperto, a ponto de aproximar pessoas que jamais deveriam ter se conhecido.