Doce ilusão

E eu continuo insistindo nisso, batendo na mesma tecla, como se a qualquer momento você fosse virar, me olhar nos olhos, segurar minhas mãos e se desculpar por tudo, dizer que foi um idiota, e terminar com uma linda frase de “Eu amo você”. Mas cade a garota pé no chão quando se precisa dela? Isso não vai acontecer, primeiro porque contos de fada não existem, segundo porque você não é do tipo de cara que se desculpa, e terceiro porque você não é do tipo de cara que se apaixona. 

Todos os dias eu engulo essa verdade por mais que me doa, mas fica difícil de acreditar quando te pego olhando pra mim, meio escondido, tentando disfarçar, meio que por pouco tempo, meio que quase o tempo todo. 

Nessas horas meu coração dispara e mal consigo ouvir as pessoas ao redor, porque estou ocupada demais me iludindo, acreditando mais uma vez que se você olhou pra mim daquele jeito deve ser porque gosta de mim. “Talvez esteja com vergonha de admitir” penso comigo mesma. Mas logo vem a lucidez.

Jamais pedi algo à você, mas se eu pudesse pedir, pediria pra me deixar em paz, pra esquecer que existo, pra não me olhar, pra não me enxergar, pra não notar, por favor que eu seja invisível, porque só assim é que talvez eu consiga seguir em frente sem essa doce ilusão.

Incertezas do futuro

Eu estou com medo. Sim, estou com medo e nem sei ao certo porque. Eu sempre soube que nada na vida é para sempre, mas isso não muda o fato de despedidas serem cruéis. E despedir-se de pessoas, lembranças e coisas não me parece nem um pouco fácil. Mas está chegando, e eu não sei como agir. Nesse momento ainda estou anestesiada, não me parece o fim, ainda acho que ano que vem vou voltar para a escola, para o mesmo pátio barulhento, para aqueles rostos que me acompanham a mais de nove anos ou menos de seis meses, para as conversas sem sentido, para as brincadeiras fora de hora, para as aulas chatas de matemática ou as entediantes de história, ainda acho que vai ser como sempre.

Depois de um tempo a gente percebe que não é do “novo” que temos medo, mas sim de deixar pra trás o “velho” e seguir em frente.

Certa vez li em algum lugar que ” a gente vem para esse mundo sozinho, e que vamos embora dele da mesma forma”, e mesmo que essa frase dê um frio na espinha, ela não deixa de ser verdade.

 A faculdade não me assusta mais do que imaginar um lugar diferente da escola, onde eu não sei o que esperar, e é dessa dúvida que tenho medo. O medo é maior pela incerteza, do que verdadeiramente pelos fatos. Mas, a vida é isso, é uma caixinha de surpresas, mesmo quando não estamos preparados para abri-lá.

Como um sanguessuga

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Hoje bateu aquela depressão, e eu adoraria poder dizer que isso não tem nada haver com você, mas não posso mentir pra mim mesma. Eu estava bem, estive me divertindo, conheci novas pessoas, e por incrível que pareça não tentei encontrar nada de você nelas. Quando eu estava gargalhando, mal me lembrava do seu nome, e meu esquecimento estava durando uma hora a mais a cada dia.
Mas ai, claro, você estragou tudo. Com tantos lugares você tinha que estar bem ali, logo atrás de mim. Acho que estava faminto, e como um sanguessuga veio se alimentar da minha alegria. E ai, foi divertido? Foi divertido quando nossos olhares se encontraram e você me pegou totalmente sem graça, sem chão e frágil? Foi divertido quando eu me virei fugindo do seu olhar? Quando eu cruzei os braços de nervoso? Quando seu sorriso me pegou desprevenida e me atacou em cheio como uma flecha? Deve ter sido.
Será que você não me machucou o suficiente? Quanto mais devo aguentar até que você esteja satisfeito, me largue jogada em algum canto, e busque uma nova presa?
Eu tenho me afogado em você, e toda vez que tento me libertar, você me puxa pro fundo. Estamos nos afogando em suas mentiras.  E não tem ninguém aqui pra segurar a minha mão. Estou sozinha presa à você. E você não sabe se deve me soltar, não quer nada de mim, mas tem medo do vazio, de ficar sozinho. E assim vamos vivendo, você dependendo da minha dor, e eu dependendo de você.

Conhecer…

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 “Eu fiquei surpresa. Afinal, de contas quando soube que você gostava dele, eu achei que ele fosse legal…” disse-me ela com uma preocupação na voz, enquanto tentava decifrar minha expressão séria. Mas ela não conseguiria, eu era como um túmulo que jamais se abriria.

Que bela dedução. No entanto, isso me fez perceber que ela não me conhecia o suficiente, porque se conhecesse saberia sobre meu dedo podre e sobre a completa falta de sorte que me rodeava. Pensei em lhe explicar tamanhos argumentos, mas desisti ao me dar conta do que ela diria, “isso é só uma fase”, mas eu sabia que não era.

Ele não havia sido o primeiro a me magoar, e nem de longe seria o último. E eu sei o que ela achava, que eu estava sofrendo e que precisava de consolo em um abraço reconfortante. Mas, isso era porque ela não me conhecia bem, porque se conhecesse saberia que eu sempre me curei sozinha.

Ela me falou sobre não entender o que eu pude enxergar em um cara como ele, que aos olhos dela não tinha beleza alguma. E pela primeira vez ela parecia ter razão. Nunca fui do tipo de ligar pra estética. Minha conexão com as pessoas sempre aconteceu de outra forma, uma forma especial. E eu sempre achei que talvez fosse algo sobre o destino, que tinha o dever de fazer certas pessoas se conhecerem. Sempre enxerguei um outro tipo de beleza nas pessoas. Uma mais escondida, que poucos podiam enxergar. Mas que beleza eu encontrei no rapaz que tanto me machucara? Naquele momento eu não me recordava de nada que podia ter me levado a esse amor. Nada nele parecia especial. Pelo menos, naquele momento não.

Ela me deu conselhos clichês, sobre ele ser um idiota. Me disse palavras bonitas de amizade e fez algo que me surpreendeu, me deixou sozinha. Talvez, ela não me conhecesse tão mal assim. Talvez, me conhecesse melhor do que eu conhecera o rapaz que havia arrancado meu coração.

Afinal, o que eu sabia sobre ele? Que seus olhos eram castanhos, que ele gostava da minha música depressiva favorita, que foi nerd na quinta série, que se apaixonou por uma menina que só via nas férias, assim como eu, que sorriu ao imaginar a hipótese de eu gostar dele, que mudara seu jeito para ser aceito, que tinha um sorriso bonito, que nunca ficara triste, que destruiu meu coração.

Então, se o destino de fato coloca as pessoas na vida das outras por algum motivo, qual seria o motivo de termos nos conhecido?  Qual seria o motivo pra ele ter destroçado meu coração? Talvez, o destino não fosse bom. Ou, talvez não fosse muito esperto, a ponto de aproximar pessoas que jamais deveriam ter se conhecido.