Meia dúzia de palavras

Eu sabia de você, muito antes de colocar meus olhos em você, ela me dizia “conheça ele!”, o tempo todo, tão entusiasmada, que parecia ser o certo à fazer, mas eu fugia, apesar de querer, porque algo dentro de mim, me assustava. Hoje, entendo. Faz sentido.
Aí fico pronta para dizer meia dúzia de palavras, que com facilidade escreveria em um papel, mas que quase não passam pela garganta. E você, calmamente com as suas meia dúzia de palavras duras, destrói, aí eu paro, respiro fundo, deixo elas para outro dia, porque não quero sair como errada dessa vez, mas o tal dia nunca chega. Passo a madrugada, criando planos de fuga, mas quando te vejo, eles parecem tão patéticos, ou eu mesma sou, porque o único lugar para onde sinto vontade de fugir, é para os seus braços tatuados.
Eu nunca conheci ninguém como você. Tão clichê. Tão real. E não, não é como se tivesse sido paixão à primeira vista, porque nem te achei um cara tão legal assim, quando finalmente coloquei meus olhos em você, mas o tempo é a resposta de tudo, não dizem?
Não sei quando realmente me apaixonei por você, talvez, depois do quarto ou quinto beijo, não que tenham tido muitos depois disso, mesmo eu tendo que me controlar para não pedi-los o tempo inteiro, mas de fato, isso não importa, me apaixonei por você em algum momento desses e quando vejo seus olhos brilhando, enquanto conta sobre seus sonhos mais malucos ou mais puros, eu entendo o motivo, só ali, eu entendo e me teletransporto para dentro do seu mundo, ignorando o meu, ignorando o quanto queria você dentro do meu, torno seu mundo minha moradia por alguns segundos, até lembrar que não posso, normalmente, ao ser lembrada por você. E embriagada e frustrada, cuspo meia dúzia de palavras que não são verdade, mas que não custam à sair, e percebo que a mentira é sempre mais fácil á ser dita.
Você tem um dom, sabe apertar os botões certos e me deixar feliz e triste com a mesma facilidade, e às vezes, até ao mesmo tempo, sabe exatamente o que fazer, como se mover e eu só fico ali esperando para ver se vai doer ou se vou rir dessa vez.
Naquela noite, depois de suas meia dúzia de palavras enroladas, senti algo que talvez, eu não sinta de novo, porque talvez, elas fossem mentira, como algumas das minhas, mas eram a mentira mais linda que me agarrei com facilidade. Poderíamos ter parado aquela noite. Eu poderia ter dito meia dúzia de palavras de amor e você não as enojaria, nem reviraria os olhos, e muito menos diria não ter um coração, mas me beijaria, porque naquela noite eu podia fazer parte do seu mundo, você permitiria. E não seriam meia dúzia de palavras que destruiriam a noite que agora só existe em minha memória.